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Sem crises, Mário regressou à bola

Mário Pereira foi o primeiro doente operado nos HUC à epilepsia. Curado, foi atrás do que a epilepsia lhe roubou na juventude e joga futebol no pelado da sua terra

Mário Pereira terá sido o primeiro doente submetido a cirurgia de epilepsia nos HUC, à data com uma intervenção que recorda ter sido conduzida pelo neurocirurgião Fernando Gomes, entretanto falecido. Ainda esteve «cinco dias a ser estudado, com uma série de fios ligados ao cérebro, parecia um “robocop”». Sabe que «testaram uma série de procedimentos e equipamentos, vindos até dos Estados Unidos», mas «felizmente correu tudo muito bem». No ano seguinte à cirurgia, realizada quando tinha 26 anos, ainda teve «uma ou duas crises», mas ao fim de dois anos foi lhe retirada a medicação e estava completamente curado.

Para trás ficavam 16 anos de crises recorrentes, «longas, muito atípicas, com movimentos bruscos em que quase parecia que virava a cabeça para trás, ou outras em que ficava mais apático», conta Mário, recordando anos tão difíceis para si e para a sua mãe. «Às vezes acordava e eu estava no chão a bater com a cabeça».

A epilepsia devia-se a um tumor benigno depois retirado e não era controlável com medicação. Na juventude, sem poder ir a discotecas, festas ou conduzir tanto como outros da sua idade, teve sobretudo pena de deixar o futebol. «Às vezes tinha crises no treino ou no jogo e os colegas ficavam perturbados por me ver a estrebuchar na lama», lembra. Foi portanto com grande prazer que voltou aos “pelados” da sua terra depois da cirurgia.

Estima-se que existam em Portugal entre 50 e 60 mil pessoas com epilepsia, uma doença com origem no cérebro e que se manifesta por crises (descarga anormal dos neurónios) recorrentes. Se a esmagadora maioria consegue controlar estas crises com medicação, em cinco a 10% dos casos estas terapêuticas revelam-se insuficientes, com enormes prejuízos para a qualidade de vida das pessoas. Pioneiro a nível nacional, o Programa de Cirurgia de Epilepsia dos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC) foi criado há 25 anos, precisamente para responder a estes casos de epilepsia refratária e tem-no feito, de acordo com Francisco Sales, de forma cada vez mais diferenciada.

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