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Coronavírus coloca ensino digital no dia-a-dia de alunos e professores do Politécnico de Coimbra


Quarta, 25 de Março de 2020

Bruna Correia

Os ponteiros marcaram as 13h30 e aquela que era uma aula presencial, dita “normal” como o típico ensino português determina, passa a ser uma novidade e transforma-se uma aula online. Ontem, a aula de Psicologia Social das Organizações, do 1.º ano da licenciatura de Comunicação Organizacional da Escola Superior de Educação de Coimbra (ESEC), foi leccionada pelo docente Henrique Pires, através da plataforma “Zoom” e nela participaram 53 estudantes. Esta tem sido a realidade de vários professores e alunos desde que a pandemia da Covid-19 terminou com as aulas presenciais e os obrigou a moldar as metodologias de ensino através das tecnologias, agora usando-as a 100%.
A cadência e os horários são «similares» aos que já tinham nas suas rotinas de aulas presenciais. Contudo, há todo um novo plano e metodologia aplicado nas aulas online.
«A mudança está a ser feita gradualmente, é uma adaptação e um esforço muito grande», admitiu Henrique Pires, professor da ESEC.
«A questão metodológica é mais ao nível da exposição, da prévia preparação dos alunos para as aulas online para serem mais produtivas e interactivas e menos expositivas», explicou o docente, sublinhando que faz parte dos seus objectivos «reduzir esta questão expositiva e lançar mais desafios aos alunos e colocar-lhes questões para interagirem de forma a que a aprendizagem seja mais eficaz».
Ontem foi a segunda aula e, ao que tudo indica, não será a última, uma vez que até às férias da Páscoa este é o plano a manter. Foram duas horas em que o professor Henrique Pires esteve a leccionar, a partir de sua casa, e os estudantes tiveram a assistir, a partir das suas casas também. Aquilo que poderia ser até então inimaginável, tornou-se a realidade dos tempos que vivemos agora.
“Motivação”, “Percepções” e “Tomada de Decisão” foram os temas abordados. A aula começou pela parte teórica, passando para a apresentação de um powerpoint. Como? O ecrã do professor foi partilhado de modo a que todos os alunos tivessem acesso e, à medida que o professor foi abordando os temas, também ele próprio ia avançando os diapositivos do powerpoint, tal como se faz numa aula presencial. As dúvidas também foram esclarecidas ao longo da aula, pois há a possibilidade de os estudantes falarem com o professor e terem acesso às imagens uns dos outros. E a preocupação do docente de saber se todos entenderam ou se ainda haviam dúvidas também imperou. A parte final foi para isso mesmo e as curiosidades dos estudantes foram sobre as avaliações. «Testes online ou transformar os testes em trabalhos individuais», foram as possibilidades que Henrique Pires partilhou, contudo, esta é uma questão que ainda está a ser avaliada. 


Ensino à distância merece elogios
Sara Gomes foi uma das 53 estudantes que assistiu e participou activamente na aula. Toda esta “viragem” e adaptação repentina foi «confusa e complicada», confessa. E as principais dúvidas, conta, passaram por perceber como é que iam ser as frequências e como é que os estudantes iam ser avaliados.
Mas a alteração de uma rotina significa novas adaptações. «Temos de ganhar mais vontade», conta Sara, uma vez que o desleixo é muito maior pois os estudantes estão em casa e confortáveis. Mas não só. Para Sara, «as aulas têm sido mais cansativas porque acabam por ser duas horas a olhar para um ecrã» e, acrescenta, isso gera uma maior dificuldade de concentração e exige um esforço acrescido.
Contudo, não dúvida, «o à vontade e a comunicação com os professores é muito maior». «Eu tenho compreendido as aulas e os professores têm mostrado muita disponibilidade. Temos outra flexibilidade», concluiu.
Maria Libório, também uma das estudantes que marcou presença na sessão de “Psicologia Social das Organizações” partilhou da mesma opinião da colega Sara.
«No início eu sentia que tinha mesmo de arranjar motivação. E agora, estando em casa, já me habituei e tive de mudar a minha motivação e forma de estar», contou.
Relativamente ao ponto a favor das aulas online, Maria Libório destaca a disponibilidade dos professores e o à vontade dos mesmos».

Opiniões dividem-se e há quem não goste
As opiniões dividem-se e se há estudantes que estão a ter uma fácil adaptação a esta nova realidade do ensino digital, outros nem tanto.
É o caso de António Loja, outro dos estudantes que marcou presença na aula, e que confessa «não estar a gostar muito».
«Eu prefiro as aulas presenciais porque sou mais proactivo. Gosto de estar com os meus colegas e as aulas online são mais propícias a distracções», destacou.
Ainda assim, e consciente de que esta é para já a “solução”, contou que teve de arranjar motivação e adaptar-se.
Até porque, como acabou por admitir, esta prática tem vantagens.
«Estamos em casa, confortáveis, e conseguimos falar com toda a gente e chegar a mais gente. Facilita sim», sublinhou.

Modelo tem vantagens pode ser complemento
Para o docente Henrique Pires, que já teve uma experiência numa instituição que faz o ensino 100% online, o ensino online tem várias vantagens: a ausência do ruído; o próprio desenvolvimento dos estudantes no que toca à sua aprendizagem, uma vez que este ensino exige que tenham outra autonomia e disciplina; o online também exige uma programação na qual o estudante está consciente dela e tem que a preparar e ao preparar está a desenvolver a vertente crítica. Enquanto que no presencial vai em branco sem saber o que vai ser leccionado na aula e a facilidade de gravar a aula, sendo que em qualquer momento pode aceder à aula. o que pode permitir ao estudante clarificar as dúvidas, estimular o estudo e preparar um teste.
«Os alunos têm que desenvolver a capacidade de autonomia. Têm de ser disciplinados e organizados», acrescentou o docente, sublinhando que «o futuro vai ser baseado entre as duas dinâmicas: o ensino presencial, alternado com o ensino à distancia, permitindo que o aluno possa ter a sua intervenção». «E isso é a grande vantagem», concluiu o docente. |

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