Chamaram-lhe ‘Gigante’, ‘Adamastor’, ‘Diabo’ e até terrorismo, nenhum dos apelidos com uma conotação positiva. Os incêndios que desde domingo não deixaram respirar a Mata Nacional, inquietaram as pessoas que viram, de coração nas mãos, a paisagem que sempre os acompanhou desde criança ser engolida pelas chamas.
O que restou? Cinzas, pinheiros ainda no ar mas tingidos de negro, um rastos de destruição e mais quilómetros de floresta ardida, mais do que aquilo que os olhos podem acompanhar.
“E agora respiramos o quê?”, pergunta-se Aida Gomes que, junto do seu primo Fernando, passeava pela rua em Garcia, uma localidade da freguesia da Marinha Grande, à beira do Pinhal do Rei que ainda há três dias era verde e agora não reconhece. “Sempre vim para aqui dar uma caminhada, respirar o ar puro mas agora…”, reclama sem saber ao certo como terminar a frase.
“Foi a primeira vez que passei aqui depois de estar queimado e parece que uma pessoa nem está no mesmo sítio”, lamenta Aida Gomes.
Os momentos de terror ficaram algumas horas atrás e, apesar da paisagem desoladora e do ar ainda repleto do fumo que a terra ‘transpirava’ em pequenos focos, Aida mantém uma atitude positiva repetindo que a sua situação não foi a pior.
“O fogo não me entrou pelo quintal adentro como aqui”, explica olhando para a casa, atrás de si, cujo quintal está tão negro como o pinhal em frente. “Lá perto da minha casa foi como se o fogo estivesse aqui e a minha casa ali atrás”, contextualiza, ilustrando uma distância de cerca de 20 metros, não mais, e lembrando que a sua situação não foi a pior.
