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A serenata da Sé Velha e as tradições sacrossantas


Terça, 28 de Maio de 2024

A manifestação/serenata na Sé Velha, por iniciativa da Secção de Fado da AAC para contornar a anulação decidida pela Comissão Organizadora da Queima das Fitas, dominou ontem o período de antes da ordem do dia da reunião da Câmara de Coimbra. Com aplausos à decisão dos estudantes mas também convites à reflexão, porque há insegurança em grandes aglomerações num espaço como o da Sé Velha. De resto, o parecer negativo da PSP focou precisamente as questões de segurança.
Francisco Queirós (CDU) foi o primeiro a manifestar satisfação pela realização da serenata na Sé Velha, mas seria Hernâni Caniço (PS) a alimentar a polémica. O vereador saudou a academia de Coimbra, pelo respeito à tradição «sem passadismo bacoco, com o civismo demonstrado na realização da manifestação do silêncio na Sé Velha acompanhado de canção de Coimbra, porque “há sempre alguém que resiste”».
Neste caso, completou, «resistiu à autocracia, à falta de transparência, à incapacidade de diálogo de quem, no secretismo de um parecer não tornado público, teve o município por cúmplice». A acusação levaria a vereadora Ana Cortez Vaz a frisar que «o município não foi cúmplice de nada», sempre colaborou com a Comissão da Queima e esteve disponível para licenciamento e fiscalização de atividades. O parecer da PSP «é vinculativo, se negativo o processo é cancelado à partida», observou.
O parecer da PSP, referia-se, não foi, nem tinha de ser, dirigido à autarquia, mas sim à Comissão da Queima. Ninguém está contra a serenata, observou o presidente da Câmara, mas o local e as circunstâncias merecem reflexão, devendo ser respeitado o parecer da PSP, «cuja única preocupação são as questões de segurança».
Depois, importa refletir nas tradições, «umas são sacrossantas, outras não», disse, ao recuperar alterações feitas ao longo dos tempos, inclusive com a serenata, «que já passou por várias modalidades». O número de estudantes da UC é hoje muito maior do que há uns anos, e as aglomerações podem originar problemas, como «esmagamentos». «Esperemos que nunca aconteça, mas um dia as escadas podem ser verdadeiramente macabras», disse, recuperando uma designação depreciativa utilizada aquando da construção da escadaria.

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