Mais de 400 jovens, alguns em situação de fome e de sem-abrigo, foram apoiados em oito anos pela Plataforma de Apoio a Jovens Ex-Acolhidos (PAJE), que ampara e encaminha estes jovens para a sua autonomização.
“Já apoiamos mais de 400 jovens em todo o país porque continuamos a ser a única entidade que se dedica exclusivamente a apoiar quem sai de casas de acolhimento”, disse hoje à agência Lusa o mentor e presidente da PAJE.
João Pedro Gaspar contou que a plataforma já apoiou jovens “em situações de desespero”, como fome, falta de medicação, alojamento, emprego, e ajudou alguns a sair da situação de sem-abrigo, prestando também apoio psicológico e na área da saúde mental.
“Também visitamos jovens em prisões, e eventualmente somos a única visita que têm”, disse João Pedro Gaspar que falava à agência Lusa a propósito do “Dia do Acolhimento” que se assinala sempre na terceira sexta-feira de fevereiro, acontecendo este ano a 16 de fevereiro.
A PAJE também presta aconselhamento em situações burocráticas do quotidiano, como ajudar preencher o IRS, até ser fiadora num contrato de arrendamento ou pagar a carta de condução a um jovem que precise, mas também na questão da integração profissional.
“São já várias dezenas de jovens que conseguimos de alguma maneira ajudar a colocar em termos de empregabilidade e, acima de tudo, a manter os empregos”, sublinhou.
O presidente da PAGE explicou que “às vezes é fácil conseguir um emprego, mantê-lo é que é mais difícil, porque nem sempre são trabalhadas as questões do respeito pela hierarquia, do cumprimento dos horários, da responsabilidade e é todo esse trabalho” que a plataforma faz para que os jovens possam assegurar o seu posto de trabalho.
Questionado se têm aumentado os pedidos de ajuda de jovens que saem de instituições de acolhimento, afirmou que sim, mas ressalvou que pode dever-se à divulgação da PAGE e, em parte, por ter sido agraciada com o Prémio Direitos Humanos atribuído pela Assembleia da República no final de 2023.
Por outro lado, realçou que há menos pedidos de jovens que saem de forma extemporânea da instituição: “Durante muitos anos sentíamos que havia muitos jovens que, na ânsia dos 18 anos [quando atingiam a maioridade] saíam e ultimamente temos notado que há menos casos”.
Segundo o responsável, esta situação pode dever-se ao facto de ter entrado em vigor a lei que permite o direito ao arrependimento.
“Algum jovem que aos 18 anos queira sair do sistema de promoção e proteção, se as coisas não lhe correrem bem, pode pedir para reingressar”, revertendo assim “uma decisão que tantas vezes é uma decisão precipitada, porque 18 anos são 18 anos”.
O “Dia do Acolhimento”, que começou por ser comemorado em 2016 nas ilhas Britânicas e se assinala em Portugal desde 2022, através da PAGE, vai ser assinalado com um seminário na Fundação Bissaya Barreto, em Coimbra, sexta-feira, que contará com diversas personalidades da área da justiça, saúde mental, psicologia, entre outras, bem como famílias de acolhimento, jovens acolhidos e profissionais da área.
A PAGE desafia as cerca de 300 casas de acolhimento do país a assinalarem a data, fazendo, por exemplo, “um bolo alusivo, uma faixa, enviarem mensagens inspiradoras para que os meninos e as meninas possam ser surpreendidos nas escolas por uma mensagem de ânimo de estímulo”, sugeriu.
A outra forma é marcarem presença no seminário, que tem já tem mais de 150 inscrições, desafiou João Pedro Gaspar.
“O que nós comemoramos neste dia é realmente o esforço de quem acolhe, sejam profissionais, famílias e também as vitórias alcançadas por quem passou pelo acolhimento, para quem se viu privado do direito de crescer na família biológica e teve que crescer numa forma de acolhimento”, concluiu.
