Jornal Republicano – Órgão Regionalista das Beiras – Há 93 anos a informar
Fundador: 
Adriano Lucas (1883-1950)
Diretor "In Memoriam":  
Adriano Lucas (1925-2011)
Diretor: 
Adriano Callé Lucas

Henrique Gouveia e Melo prevê cidades no mar em 30 a 40 anos


Sábado, 13 de Janeiro de 2024

O almirante Henrique Gouveia e Melo prevê que, ainda neste século, eventualmente nos próximos 30 ou 40 anos, haja «conglomerados humanos a viver no mar» em «cidades flutuantes». O que conduzirá a um «fenómeno de competição pelos espaços marítimos», observou o chefe do Estado-Maior da Armada durante uma conferência online promovida pelo Instituto Superior Miguel Torga (ISMT).
«Vamos viver um período mais conturbado» na corrida ao mar, ao seu potencial «geoestratégico, militar e científico», antecipou Gouveia e Melo, comparando o atual momento com a transição do paleolítico para o neolítico, há 30 mil anos, porque também no mar se irá passar de nómadas para sedentários.
No entanto, analisou, nenhuma atividade será permanente sem segurança, que será fundamental para um mundo mais «oceanocêntrico». Nesse campo apontou os três fatores que contribuem para a insegurança no mar, que cobre dois terços da crosta terrestre e não tem fronteiras precisas.
Desde logo os fatores acidentais, relacionados com a navegação, manutenção de embarcações, recurso a pessoal adequado, o que exige normalização e fiscalização. «Acontecem muitos acidentes no mar», disse. Depois há as causas internacionais, «difíceis da contrariar», praticadas, por exemplo, por grupos (pirataria, tráficos, poluição) ou mesmo por Estados. A mitigação passa pela prevenção, que exige observação, planeamento, decisão e ação. Ou seja, vigiar, perceber intenções, agir e dissuadir. O terceiro fator prende-se com as causas naturais, «que o ser humano não consegue dominar», e reclama «uma postura de prevenção, de monitorização dos fenómenos marítimos e geológicos».
Por vezes, tais fatores ocorrem em cadeia, sobrepõem-se, referiu o almirante, ao notar que a área de responsabilidade marítima de Portugal (plataforma continental) é do tamanho da Europa e «nevrálgica» para o mundo ocidental. Uma dimensão que traz oportunidades, mas também ameaças, exigindo a um país pequeno e com poucos recursos, como Portugal, uma gestão com «muita inteligência», com «racionalidade económica», sem desperdício ou dispersão de meios. Tem de ter modelos de atuação eficazes, defendeu, dizendo, por outras palavras, que não pode haver, no mar, uma força para a droga, outra para a pesca ilegal, outra para acidentes… diversas marinhas. «O meu conselho», concluiu, «é que se desenhe uma marinha pós-moderna, eficaz e eficiente».
Henrique Gouveia e Melo, que ganhou expressão pública em 2021 como coordenador da task-force para a vacinação contra a Covid-19, foi o primeiro convidado do I Ciclo de Conferências da nova pós-graduação em “Investigação e Segurança Contra Catástrofes, Crises e Acidentes” do ISMT.
Participaram ainda na conferência Luís Marinho, presidente do ISMT, Noémia Salgado Cunha, coordenadora científica da pós-graduação, e Margarida Dias, docente da pós-graduação e psicóloga forense.
A nova formação, sublinha o ISMT, «vai proporcionar aos futuros peritos conhecimentos e competências científicas e técnicas necessários, sustentados pelas melhores práticas de segurança e de investigação, multidisciplinares e multi-institucionais, que lhes permitam realizar com eficácia e adequação todos os procedimentos, de segurança e de investigação de ocorrências».|

CCDR Funtos Europeus



Edição de Hoje, Jornal, Jornais, Notícia, Diário de Coimbra, Diário de Aveiro, Diário de Leiria, Diário de Viseu