Caminhos do Cinema Português: o que pode ver amanhã
Amanhã, 21 de novembro, o Festival Caminhos do Cinema Português, apresenta um leque variado de experiências cinematográficas. Obras que desafiam percepções artísticas, memórias coletivas e inquietações contemporâneas. O dia abrange sessões no Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV), na Casa do Cinema de Coimbra (CCC) e no Cine-Teatro Messias (CTM), com destaque para curtas-metragens inovadoras e exibições que prometem provocar diálogos e reflexões intensas, com a presença de vários realizadores.
Seleção Ensaios no TAGV: um mergulho em emoções visuais
Às 14h30, a Seleção Ensaios traz um conjunto de curtas que exploram desde paisagens emocionais até simbolismos poéticos. Começando com «Cherry, Passion Fruit», de Renato José Duque, uma obra de animação que se destaca pela tensão visual e a exploração de sombras misteriosas, que criam uma atmosfera carregada de antecipação e desejo. «À Luz das Impressões», de Luís Miguel Rocha, convida o espectador a experienciar a arte através da luz e da sensibilidade dos sentidos.
«Cantos da Metamorfose Ou Aquela Vez Em Que Eu Encarnei Como Boto», de Ainá Xisto, é uma narrativa abissal que combina o desejo de gerar vida com uma viagem metafórica pelo tempo, que explora as relações mais-que-humanas – somos levados numa viagem quase xamânico-espiritual, enquanto andamos entre o cá da vida física e o lá da vida não palpável. «Como Chorar Sem Derreter», de Giulia Butler, conta a história de Elizabeth, que deixa de conseguir chorar e vê a solução nas mãos de uma misteriosa menina.
Igualmente intrigante, «Chuvas de Verão», de Mário Veloso, retrata a tensão e violência num grupo de rapazes durante uma tarde abafada de verão, que culmina num desfecho de desejo e tragédia. «Uma Mãe Vai à Praia», de Pedro Hasrouny, descreve um dia agitado de Teresa, uma mãe solteira que tenta manter a calma perante as comparações constantes feitas pela sua irmã.
A sessão conta com a presença do realizador Pedro Hasrouny, o que permitirá conhecer mais detalhes e inspirações do filme. Por fim, «Nothing but Shadows», de Kathy Mitrani, é um drama de suspense em que Marisol enfrenta o medo da mortalidade após uma descoberta perturbadora no aniversário da morte do marido.
Seleção Caminhos: narrativas de descoberta e transformação
Às 17h00, passa «Quando a Terra Foge», de Frederico Lobo, que transporta o público para as paisagens misteriosas da Serra, onde um pastor procura uma vaca desaparecida, e o ciclo da vida e memória se cruzam e desvanecem entre o nevoeiro. Segue-se «Romagem», de Jorge Cramez, uma adaptação poética de um conto popular que narra a viagem de Tomé, um jovem que se confronta com a morte e a ressurreição numa jornada simbólica.
Mais tarde, às 19h00, o Festival continua com «Iris», de João Monteiro, um retrato sobre a fragilidade da visão e a descoberta de uma nova beleza no mundo, e «Amanhã Não Dão Chuva», de Maria Trigo Teixeira, uma curta intimista que explora os sinais da incerteza do futuro. «À Medida Que Fomos Recuperando a Mãe», de Gonçalo Waddington, completa esta trilogia de temas densos e pessoais – aborda o luto e a recuperação emocional, e faz com que todos os momentos de cumplicidade representados no filme sejam os mesmos que nos incomodam, que nos fazem questionar e que mexem connosco.
Noite de impacto e ousadia no TAGV
Às 21h30, a Seleção Caminhos volta com «À Tona d’Água», de Alexander David, que reflete sobre a ideia de descoberta de um desconhecido, que pode tornar-se na descoberta do “eu” desconhecido. O dia culmina com a exibição de «Estamos No Ar», de Diogo Costa Amarante, que retrata as vidas interligadas de três gerações: avó, mãe e filho. O filme explora desejos reprimidos, novas experiências, e os constantes desafios da solidão em diferentes fases da vida. A sessão conta com a presença dos realizadores.
Casa do Cinema de Coimbra: novas visões e programa Incentivar
Às 15h00, a Seleção Filmes do Mundo propõe uma viagem internacional com «3MWh», de Marie-Magdalena, um filme-poema sobre o decrescimento, que demonstra a relação entre o homem e a realidade material, e como seria se deixasse de se colocar no centro da natureza, e «A Stranger Quest», de Andrea Gatopoulos, acompanha uma mente artificial que segue David Rumsey numa busca inexplicável, confrontando-se com os fantasmas do seu passado e com o fim cada vez mais próximo.
Às 17h30, os «Primeiros Passos» do programa Incentivar, com entrada livre. Cineastas emergentes apresentam as suas ideias a um painel de profissionais experientes e recebem orientações cruciais para transformar conceitos em filmes. Esta iniciativa reforça o compromisso dos Caminhos com o futuro do cinema português, com filmes que nasceram desta intersecção entre cinema e educação, que demonstram na prática como estas fusões podem gerar novas formas de ver e pensar o mundo.
Às 22h00, a sessão Seleção Outros Olhares apresenta filmes como «Enxofre», com a presença da realizadora Karen Akerman. Esta obra de sua autoria e de Miguel Seabra Lopes, transparece a ideia de que a solidariedade infantil é mais forte do que a morte, causando um verdadeiro arrepio enquanto se ouve sobre a morte e vida pela voz de crianças. E «Play it Again, Yuki», de João Ganho, que retrata a evolução do processo de recuperação e superação na visão do realizador que segue esta pianista e a sua tentativa de retorno à criação e interpretação musical, mesmo com limitações físicas.
Para fechar, o Turno da Noite, a partir das 23h59, destaca curtas como «O Procedimento», de Chico Noras, com a presença do realizador, numa crítica social intensa e desconfortável que tem como mote a questão: O que fazer quando uma pessoa deixa de produzir?. «6», de Miguel Cardoso, aborda o lado sombrio de Marta – aquilo que vimos é mais real que o que nos aperta o peito? Como é que se enfrenta o medo… e a morte, quando ela nos visita. E, por fim, «Ensaio da Loucura», de Victor Hugooli, um retrato poético de uma relação tóxica com a própria mente, sobre como os limites da insegurança e auto-sabotagem podem levar à loucura.
O dia 21 de novembro no Festival XXX Caminhos do Cinema Português promete não apenas uma vasta oferta cinematográfica, mas também a possibilidade de interação com realizadores e convidados do mundo do cinema, que proporcionam momentos de reflexão, crítica e diálogos inspiradores sobre o cinema e a sociedade, do passado, presente e futuro.