Um em cada 10 jovens foi vítima de cyberbullying muito frequentemente
Um em cada 10 jovens foi vítima de cyberbullying muito frequentemente, sob a forma de comentários, boatos ou assédio, concluiu um estudo hoje divulgado pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP).
Em entrevista à agência Lusa, na véspera do Dia Mundial de Combate ao Bullying, que inclui a prática de cyberbullying, que se assinala domingo, a investigadora Mariana Rodrigues sublinhou a necessidade de alertar a população para este fenómeno, sobretudo famílias e escola, mas sem esquecer as organizações públicas e institucionais.
“Esta investigação também nos mostra que quase 15% [14,7% mais especificamente] dos jovens nunca fala com a família sobre os perigos da Internet e sobre formas de se protegerem. É importante que a escola, nomeadamente a escola pública, cumpra o papel de informar e capacitar os jovens nomeadamente através da Educação para a Cidadania que deve ter um papel de preparar os jovens para enfrentar os desafios de uma sociedade extremamente diversa e mediada pelas tecnologias digitais”, defendeu.
Este estudo também permitiu concluir que 32,5% dos jovens não fala com amigos sobre situações desagradáveis que experienciam ‘online’, o que pode denunciar o isolamento em que alguns jovens vivem, não procurando suporte junto dos pares.
Participaram no estudo 1.262 jovens, com idades entre os 11 e os 21 anos, sendo 50,4% do sexo masculino.
Investigadora do Centro de Investigação e Intervenção Educativas (CIIE), um dos centros da FPCEUP, Mariana Rodrigues conduziu, em junho e julho de 2022, este estudo sobre o cyberbullying na população juvenil em Portugal socorrendo-se de dados recolhidos através de um inquérito nacional.
Participaram 1.262 jovens, com idades entre os 11 e os 21 anos, sendo 50,4% do sexo masculino.
Foram incluídas dezenas de escolas de todo o país, ou seja de diferentes contextos e realidades, do Norte ao Sul e Ilhas, interior e litoral.
Uma das vertentes do estudo questionava a frequência de experiências de vitimização e perpetração de cyberbullying na vida das pessoas inquiridas nos seis meses precedentes.
De acordo com os dados fornecidos à Lusa, um em cada 10 jovens foi vítima de cyberbullying muito frequentemente, sob a forma de comentários, boatos ou assédio.
Admitindo que era expectável que a população inquirida se mostrasse mais vítima do que agressora ‘online’, Mariana Rodrigues revelou, também, que um em cada 12 jovens perpetrou cyberbullying com muita frequência, com recurso à partilha de algo privado da vítima, assédio ou comentários rudes ou maldosos.
“Perante este cenário, quase um terço dos jovens tende a não ajudar a vítima quando testemunha cyberbullying”, lamentou.
"Há muito discurso de ódio na Internet. A emergência da extrema-direita, uma forte polarização política, é evidente na Internet. São discursos que estão a crescer. São precisas com urgência medidas de prevenção que combatam esse discurso de ódio e violência"
Os jovens mais velhos, do sexo masculino e com mais baixo estatuto socioeconómico, apresentam uma maior propensão para comportamentos agressivos ‘online’.
"Porém, verificou-se que as experiências de perpetração e vitimização por cyberbullying são fenómenos que se retroalimentam. Existe uma forte correlação entre ambas experiências, que tendem a aumentar simultaneamente. A vítima transforma-se em agressor e o agressor em vítima, num círculo vicioso", concluiu a investigadora do CIIE.
Questionada sobre se conseguiu identificar os locais de maior risco, Mariana Rodrigues mostrou “muita preocupação e inquietação” com as redes sociais e as plataformas e ‘chats’ de jogos ‘online’.
“Há muito discurso de ódio na Internet. A emergência da extrema-direita, uma forte polarização política, é evidente na Internet. São discursos que estão a crescer. São precisas com urgência medidas de prevenção que combatam esse discurso de ódio e violência”, disse.
"É preciso criar oportunidades educativas onde os jovens desenvolvam competências de solidariedade, de empatia e uma forma de comunicar menos violenta"
A investigadora também recomendou que futuras investigações e intervenções incluam crianças ainda com menos idade.
“Este estudo envolveu adolescentes e jovens, mas é preciso começar a atuar junto de crianças mais jovens, crianças que interagem com tecnologias digitais antes de saber ler, escrever ou andar”, alertou.
Defendendo que “é preciso criar oportunidades educativas onde os jovens desenvolvam competências de solidariedade, de empatia e uma forma de comunicar menos violenta”, Mariana Rodrigues sintetizou: “É precisa consciência crítica e responsabilidade social. A liberdade de expressão não é bem entendida por muitas pessoas”.