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De Cantanhede para a cidade no fim do mundo

André Reis, de Cantanhede, partiu à descoberta de Svalbard, no Ártico, para estudar Biologia Marinha e Gestão Ambiental do Ártico, enfrentando condições extremas e deslumbrando-se com a natureza bruta e selvagem, numa experiência que combina o seu percurso académico e a paixão pela fotografia.
«Sempre tive curiosidade por ambientes extremos e pristinos, onde se percebe que a vida é realmente um milagre», começa por dizer André Reis. A paixão pela fotografia (e algum talento, dizemos nós) leva-o a procurar nesse locais as «paisagens deslumbrantes», a «grandeza inexplicável da natureza», que nos desarma e obriga a refletir. Aos 21 anos, o jovem natural de Cantanhede e aluno de licenciatura de Biologia na Universidade dos Açores, concretizou este ano aquilo que tinha como apenas um sonho: viajar até ao topo do mundo. E conseguiu juntar isso a um percurso académico que ainda agora dá os primeiros passos. Está, desde janeiro, a tirar um curso de especialização em Biologia Marinha na UNIS - Universidade de Svalbard, território da Noruega, e partilha com o Diário de Coimbra um pouco da sua experiência. À procura de oportunidades de Erasmus nos países nórdicos e já no site da Universidade de Bergen, André deparou-se com a frase “Como fazer candidatura para UNIS, Svalbard”. Perceber que podia fazer os cursos de Biologia Marinha e Gestão Ambiental do Ártico e ainda que - «cereja no topo do bolo» - teria uma forte componente prática, com trabalho de campo que incluía cinco dias num navio de pesquisa fez com que alinhasse logo nesta aventura. O arquipélago no meio do Oceano Ártico tem menos de três mil habitantes. André está concretamente em Longyearbyen, que é a capital administrativa e económica. O quotidiano varia «consoante nos encontramos em período “polar night” e temos 24 horas de escuridão por dia, ou nos encontramos no “midnight sun”, período em que o sol não se põe», explica André Reis, que já viu as duas faces de Svalbard. Como estudante, no período da “escuridão” esteve mais confinado à cidade. «Para sair é necessário certificado e licença de porte de arma, devido ao risco de encontro com ursos polares», explica, notando que fez o treino e apenas duas semanas depois de chegar obteve a referida autorização. As “cabin trips” e os passeios de barco aumentaram com a chegada da luz solar, ainda que, a partir de maio, deixem de ser possíveis as “snowmobile”, devido ao derreter de gelo e neve. «Como estudante, o meu dia-a-dia também passa muito por ir à Universidade», ri-se, elogiando sobretudo as palestras de especialistas que vêm de todo o mundo para visitar Svalbard. De resto, há cafés, bares, ginásio, piscina e pavilhão para prática de desportos e um «ambiente super confortável e amigável». As paisagens surpreendentes de cada vez que sai da cidade, «mágicas, surreais, impossíveis de capturar», de «natureza bruta, ameaçadora e protetora», são, a par do trabalho de campo na viagem de cinco dias ao longo de Svalbard, «as coisas mais maravilhosas e emocionantes» que leva para casa. «Fizemos recolhas de peixe, zooplâncton, fotoplâncton e bentos, em diferentes locais, e foi feita a sua identificação taxonómica, sendo os dados publicados», especifica. Mesmo os desafios do «ambiente extremo», que obrigam a contrabalançar calorias ingeridas e calorias gastas ou defender-se do ataque de ursos e a estar preparado para outros perigos iminentes, são guardados por André Reis, que regressa em junho, como experiências de vida e de superação. A terminar a licenciatura, o jovem de Cantanhede tem «extensas, variadas, talvez até ilimitadas opções pela frente», de um mestrado em contaminação ambiental e toxicologia, a mestrado de biologia dos ambientes extremos ou até uma nova licenciatura em fotografia documental. Mas, como bem repara, «o futuro é estar presente» e, por agora, André Reis apenas quer «aproveitar as últimas quedas de neve em Svalbard, até um dia voltar».|

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