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Cvoid-19: Vídeo-chamadas atenuam saudade e juntam familiares à mesa durante a Páscoa


Legenda: António Silva e a esposa gostam de celebrar as épocas festivas, como a Páscoa ou o Natal, rodeados de familiares (Cristiana Alves/texto/Luís Filipe Coito/foto) Quinta, 09 de Abril de 2020

Com um olhar emocionado, António Silva observa a sala que, ano após ano, acolhe mais de 20 familiares no domingo de Páscoa. Filhos, netos, sogro, sobrinhos e cunhados, todos têm um lugar reservado na mesa de António e da esposa, habituados a ter a casa cheia em épocas festivas.
Este ano, as celebrações serão bem diferentes daquilo que manda a tradição e, pela primeira vez em dezenas de anos, a Páscoa será celebrada a dois. O cabrito assado no forno vai dar lugar a uma refeição “mais simples e prática”, nas cadeiras da sala já não vão passar os 22 familiares e pelas divisões da habitação da família Silva vai percorrer um silêncio e um vazio nunca antes experienciados.
A distância e as saudades, essas, vão ser colmatadas através de vídeo-chamadas. “Combinámos juntar-nos às 21h00 em vídeo-chamada e vamos conversar e conviver desta forma, a única possível neste momento”, explica António Silva, de 70 anos, que já adoptou esta 'estratégia' nas comemorações de aniversários.
“Eu fiz anos a 11 de Março e a minha esposa a 3 de Abril e celebrámos com a família através de vídeo-chamada. Foi bonito à mesma porque, ainda que distantes, estivemos todos juntos”, refere o leiriense.
Com um neto de 13 anos e uma neta de 3, António Silva confessa que celebrar a Páscoa à distância e estar longe dos familiares é “muito difícil”.
“Sentimos um desejo de poder abraçar as pessoas, mas esta distância é melhor do que estar na cama de um hospital, como acontece a muitos”, refere, emocionado, António Silva.
“Temos de estar mentalizados que em casa estamos em segurança e que, portanto, não podemos estar com a família”, acrescenta.
Acostumado a oferecer amêndoas, ovos de chocolate e alguns ‘miminhos’ aos familiares, António conta que este ano não vai ter possibilidade de cumprir a tradição.
“Presentemente, praticamente nem uma flor se pode dar. Além de a maioria dos espaços estarem encerrados ao público, as próprias pessoas agora têm algum receio em receber encomendas por causa da propagação do vírus”, refere António Silva.
Apesar da distância, garantida está já a realização de um almoço ou de um jantar assim que a vida comece a retomar a sua normalidade.
“Ainda esta semana falei com eles que depois temos de compensar o meu aniversário e o da minha esposa, bem como a Páscoa. Nem que seja daqui a um ano, mas temos que compensar o tempo perdido e festejar todos juntos”, garante António.

Quintal e tarefas domésticas
são fonte de distracção
em tempos de pandemia
 Numa altura em que as saídas à rua estão restritas ao estritamente necessário, e estando ‘obrigado’ a permanecer confinado em casa, António conta que é o quintal que tem permitido “distrair” da pandemia.
“Aqui em casa sentimo-nos mais à-vontade porque temos um quintal. Vai-se tratando das couves, das alfaces, e vamo-nos entretendo assim. Procuramos manter alguma actividade para não estarmos parados. Porque se estivermos parados, a balança depois estraga-se com o peso”, refere o leiriense entre risos.
Proprietário do restaurante Lusitano, em Leiria, António Silva refere que tem evitado ir ao supermercado para poder gastar e cozinhar os alimentos que tem no seu espaço de restauração.
“Temos que ir gastando o que temos, sobretudo as carnes, que não as podemos ter durante muito tempo. Estávamos preparados para continuar a trabalhar e tínhamos uma reserva de produtos. Como tivemos de encerrar, vamos fazendo as nossas refeições com o que lá temos”, explica António. 

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