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Covid-19: Quarentena Geral: o plano que tem permitido à Misericórdia manter o vírus fora de portas


Legenda: Misericórdia implementou o plano de contingência no passado dia 23 de Março (Foto: Luís Filipe Coito) Terça, 07 de Abril de 2020

Em tempos de pandemia e de catástrofe, e numa altura em que se têm registado milhares de casos de infecção e mortes por Covid-19 em Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) espalhadas um pouco por todo o País, eis que surge em Leiria um exemplo de como manter o novo coronavírus fora de portas.
Falamos da Santa Casa da Misericórdia de Leiria, que tem em vigor no Lar Nossa Senhora de Encarnação, na Residência XXI (RXXI) e na Unidade de Cuidados Continuados Integrados (UCCI), desde o passado dia 23 de Março, o Plano de Quarentena Geral Profilática.
O plano, considerado “muito exigente” e “o único no País com este tipo de medidas”, passa por manter em quarentena profilática os utentes e os próprios profissionais, que permanecem no LNSE, na RXXI e na UCCI durante sete dias, até serem substituídos por uma nova equipa.
“Pretendemos reduzir ao mínimo os riscos de contaminação dos nossos utentes e colaboradores. Os colaboradores ficam aqui a residir durante sete dias, findos os quais regressam as suas casas onde ficam em quarentena. Não podem sair de casa e antes de entrarem novamente fazem o teste de despistagem”, explica o provedor da Misericórdia de Leiria, Carlos Poço.
O plano de contingência inclui ainda uma formação permanente sobre as boas práticas de controlo de infecções. “Destaco que não é nada fácil estar confinado nos espaços referidos a trabalhar, e muito, e a dormir o possível. Para manter o ânimo também damos apoio psicológico e de ‘coaching’. Tomaremos outras medidas que se tornarem necessárias no momento próprio”, acrescenta o provedor, considerando que os “os resultados são o melhor que se podia pedir”.
“O objectivo é não ter infecções por Covid-19 e isso está a ser atingido”, destaca Carlos Poço, garantindo que as medidas serão mantidas “enquanto as recomendações da Direcção-Geral de Saúde forem no sentido de redução do convívio social”.
Questionado sobre se o plano implementado pela Misericórdia de Leiria deveria ser replicado noutras instituições, o provedor defende que “este modelo é bom e as boas práticas devem ser replicadas, mas são extremamente difíceis de operacionalizar em muitas instituições”. “É preciso ter espaço para os acomodar e contar com a colaboração dos cuidadores. É um grande desafio”, afirma.

Utentes e funcionários
destacam “eficácia” das
medidas
 “Penso que melhor não poderia ter sido feito, dado que temos assistência permanente de uma equipa de funcionárias e uma enfermeira 24 horas por dia. Elas são imprescindíveis”. É desta forma que Maria Celeste Sousa, de 81 anos, avalia o plano de contingência implementado pela Misericórdia.
A utente, que encara o isolamento como “‘mal necessário' útil a todos”, afirma que não sente “qualquer revolta nem angústia”. “Tenho feito o possível para superar estes dias ‘diferentes’ da melhor forma, cumprindo todas as regras que nos foram pedidas. Já que não posso sair à rua, leio muito, ouço música, vejo televisão e sigo a par e passo as notícias sobre o Covid-19”, conta Celeste Sousa.
Também Maria Jorge, de 95 anos, garante que tem “suportado bem” os dias de isolamento, embora “custe um bocado” não sair à rua. “Ando na escada, para baixo e para cima, vou ao terraço... Comigo está tudo bem”, refere a utente, que encara a pandemia como “um aviso para o mundo, de que somos todos iguais”.
Por sua vez, a funcionária Sofia Silva, de 42 anos, refere que estar isolada no lar durante sete dias seguidos tem sido uma “angústia”. “Por um lado, estou feliz por cá estar a ajudar para contribuir para o bem-estar dos utentes e, por outro lado, estou muito triste por estar longe do meu filho, que é pequeno”, refere a profissional, que mostra algum receio no futuro. “Tenho muito medo, porque ainda não sabemos o que nos espera”, conclui. 

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