Portugal está representado na feira internacional de artesanato Rio Artes Manuais, que termina hoje no Rio de Janeiro, no Brasil, por artesãs que fazem palitos decorativos de Lorvão e peças a partir de bracejo.
«Fátima Lopes é a única mulher que dedica a vida a fazer palitos decorativos de Lorvão. Isabel Martins cria peças a partir do bracejo (fibra vegetal) recuperando uma técnica ancestral. São estas as duas artesãs, guardiãs de segredos com séculos de história, que vão representar Portugal no Rio Artes Manuais, a feira internacional de artesanato» que começou na quarta-fera e termina este domingo no Rio de Janeiro, Brasil.
As duas artesãs estão na feira no âmbito do Programa Nacional Saber Fazer. Inserido na estratégia nacional da Cultura para o período entre 2019 e 2024, este programa, aprovado em setembro de 2020 em Conselho de Ministros, assenta em quatro pilares: preservação, educação, capacitação e promoção.
Fátima Lopes, que começou a fazer os palitos de flor com cerca de 12 anos representa «a quarta geração da família a dedicar-se a trabalhar a madeira do salgueiro com a ajuda de uma navalha». Atualmente, aquela que é a única artesã, a tempo inteiro, de palitos de flor, conta com a ajuda do marido, «que corta os salgueiros e choupos que crescem nos seus terrenos à beira-rio». A produção destes palitos é atribuída ao Mosteiro de Lorvão, no concelho de Penacova, «onde as freiras começaram a esculpir pedaços de salgueiro em pequenas tiras, usadas para decorar os doces conventuais».
Já Isabel Martins cria peças a partir de bracejo, uma fibra vegetal que cresce espontaneamente na zona da serra da Malcata, na região da Beira Interior, onde a artesã vive. A fibra vegetal, «depois de apanhada e seca é trabalhada em espiral cosida, recuperando uma técnica ancestral utilizada em cestaria».
Em julho de 2019, a então ministra da Cultura, Graça Fonseca, anunciava a criação do programa para afirmar a produção artesanal tradicional como «um setor dinâmico, inovador e sustentável». Na mesma altura, Graça Fonseca anunciou que a sede do Saber Fazer seria implantada no Museu de Arte Popular, em Lisboa, e, em junho de 2020, foi criada a Associação Saber Fazer, para coordenar as medidas do programa e mediar as relações entre entidades e os agentes no terreno, apoiar a criação de um centro tecnológico do saber fazer, para pesquisa, desenvolvimento tecnológico e aprendizagem das técnicas artesanais.
A associação tem ainda por missão identificar as necessidades de educação e formação profissional nesta área, estimular o trabalho em rede, nomeadamente entre artesãos, mas também entre empresas e outros profissionais de diferentes áreas artísticas, bem como criar experiências turísticas e roteiros temáticos.
Os associados públicos fundadores da Associação Saber Fazer são o Estado, através do pelouro da Cultura, com o Turismo de Portugal, a Agência para a Competitividade e Inovação (IAPMEI), o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), a Agência Portuguesa do Ambiente, o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, podendo ainda ser admitidos como associados quaisquer outras pessoas coletivas com atividade relevante no âmbito da promoção das artes e ofícios.
Cada associado fundador concorre para o património social da associação com uma quota anual de 20 mil euros, sendo a quota anual do Estado, enquanto associado fundador, suportada pela DGArtes.
Entretanto, em dezembro de 2022, ficou disponível ‘online’ o Repositório Digital Saber Fazer, uma plataforma ‘online’ que reúne informação sobre as artes e ofícios tradicionais portugueses, um “trabalho em curso” no qual a população é convidada a participar.
O Repositório Digital Saber Fazer é o resultado do mapeamento e caracterização das artes tradicionais em Portugal, “um trabalho hercúleo de recolha de informação dispersa, junto de câmaras municipais, de centros de artesanato, de museus, de universidades” levada a cabo pela Direção-Geral das Artes (DGArtes) nos últimos três meses, disse à Lusa o diretor-geral das Artes, Américo Rodrigues, em dezembro de 2022.|