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Tarjas das lutas académicas são mote para reflexão dos jovens de hoje (com vídeo)


Quinta, 25 de Abril de 2024

As tarjas que os estudantes da Universidade de Coimbra usaram para se manifestar durante a crise académica de 1969 escaparam às mãos da PIDE e foram guardadas na Biblioteca Geral. No ano em que se assinalam 50 anos de liberdade, a Bienal Anozero foi buscá-las e, em conjunto com o centro de tecnologias criativas TUMO, pôs os jovens de hoje a refletir sobre como hoje e no futuro hão-de eles próprios pedir a palavra. O resultado é uma exposição ontem inaugurada no antigo edifício dos Correios, no Largo do Mercado Municipal, à qual se pode aceder entrando por uma grande janela, depois de subido um torreão em construção. Como mundo e a liberdade.


“As nossas reivindicações não exigem tempo e dinheiro”, “11 por todos, todos por 8”, “Polícia ou defesa do fascismo”, “9 de Maio em Coimbra: cassetetes, gases lacrimogéneos, granadas. F. Seiça perto da morte”, “Na Assembleia Magna. Não cedas, Não cedas”. São algumas das palavras de ordem, denúncias, apelos dos estudantes que viveram a crise académica e os anos que se seguiram até ao 25 de Abril. Com dezenas de tarjas espalhadas pelo espaço amplo, no último piso do edifício do TUMO, os jovens que hoje frequentam o inovador centro de Coimbra puderam ontem ouvir Décio de Sousa, naquela altura presidente da Assembleia Magna.


Na inauguração da exposição “Peço a Palavra” - evento descentralizado da Anozero 2024 -, o antigo dirigente quis sublinhar, sobretudo, a mobilização e o trabalho empenhado dos estudantes até ao dia em que o seu presidente Alberto Martins pede a palavra. As reuniões nas repúblicas, para trocar as voltas à PIDE, as eleições dos delegados das faculdades e tantas outras formas de mobilização que tornaram possível o 17 de abril de 1969, com uma Direção-Geral da Associação Académica eleita cerca de 40 dias antes. «As coisas não acontecem por acaso, mas da nossa avaliação, estratégia e trabalho, só assim conseguimos atingir objetivos», declarou Décio de Sousa.


Carlos Antunes, diretor do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra (CAPC), entidade coorganizadora da Bienal Anozero, observou um nexo entre as reivindicações dos estudantes de 1969 e «a revolução silenciosa que o TUMO», centro de tecnologias criativas muito baseado na autoaprendizagem, está a fazer.


Os jovens que frequentam o centro foram desafiados a refletir sobre o 25 de Abril e a liberdade a partir do acervo de tarjas originais, realizando os seus próprios trabalhos e reinterpretações. Isso mesmo explicou Rita Almeida Neves, responsável de comunicação do TUMO, dando a palavra a quatro deles: Mateus Pereira, que ilustrou um livro de poesia e fez do cravo uma flor animada, que vai desabrochando aos poucos; Elisabete Soares, que criou uma música, «vital forma de manifestação»; Edu França, que pegou em fotografias de 1969 e as colocou sobre os vídeos que fez nos diferentes locais da cidade onde foram registadas; e Francisca Eusébio, que leu o seu poema sobre a importância da palavra.


A exposição “Peço a Palavra”, com as tarjas originais das lutas académicas de 1969, está patente no edifício do TUMO até 20 de maio, e pode ser visitada às segundas, quartas e quintas-feiras, das 15h00 às 20h00, terças e sextas-feiras, das 15h00 às 18h00, e sábado, entre as 9h30 e as 16h00.




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