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Ignorado na sua terra um soldado de Coimbra herói da Grande Guerra


Segunda, 15 de Abril de 2024

A condecoração de um heroico soldado da Grande Guer­ra de 1914 a 1918 foi um dos momentos especiais da Semana Militar realizada em Coimbra, entre os dias 9 e 16 de junho de 1935, para «pôr em relevo o valor do Exército português».
Na cerimónia de homenagem aos combatentes que decorreu dia 13, quinta-feira, junto ao Monumento aos Mortos da Grande Guerra na Avenida Sá da Bandeira, destacava-se a humilde presença de Luiz dos Reis, natural de Fala, freguesia de S. Martinho do Bispo, antigo soldado da guarnição de Coimbra do Regimento de Infantaria 23, que nessa tarde seria «promovido por distinção a 1.º cabo» e condecorado por bravura militar, demonstrada 17 anos antes na dramática guerra de trincheiras da Flandres.
O capitão Santos Conceição, responsável pela agência local da Liga dos Combatentes e um dos organizadores da Semana Militar, explicou aos leitores do Diário de Coimbra as razões da homenagem, começando por lembrar, no texto que nesse dia publicou neste jornal, o doloroso trabalho dos mineiros na Grande Guerra.
«Estes, entravam de manhã para as minas e lá se aguentavam dentro, durante todo o dia, sendo rendidos só à noite por outros que trabalhavam de noite. Em que consistiam esses trabalhos? Minar a terra a uma grande profundidade e levarem a sua extensão a quilómetros dentro das linhas inimigas, isto é, a pontos estratégicos, onde seriam possíveis grandes ataques, para todo esse terreno ser dinamitado e em ocasião oportuna, ir pelos ares, sendo esse ponto a passagem das tropas de ataque. Esses heróis obscuros andavam cheios de lama e geralmente enterrados em água, esboroando os torrões, desagregando as pedras, abrindo o túnel misterioso à luz baça de lanternas, trazendo calçadas grandes botas de borracha, que chegavam aos quadris», detalhava o artigo.
Nas minas de Givenchy, no setor inglês da primeira linha destes combates de trincheiras, ao lado dos britânicos faziam serviço os soldados portugueses da 2.ª Companhia do Batalhão de Mineiros. Surpreendido pela forte ofensiva alemã da madrugada de 9 de abril de 1918 (a batalha de La Lys seria desastrosa para o Corpo Expedicionário Português, com perda de 1.300 vidas, além de 4.600 feridos, 2.000 desaparecidos e milhares de prisioneiros), um pelotão dessa companhia, comandado pelo alferes Manuel António Soares Zilhão, deparou-se ao sair da mina «com o setor já invadido pelo inimigo». Num primeiro momento, conseguiram em cooperação com os ingleses manter à distância as tropas alemãs, impedindo que se apoderassem das minas. Mas às 13h00, «um novo numeroso grupo de alemães, depois de ter destruído e aprisionado um posto inglês, avançou novamente com impetuosidade contra a mina defendida nessa altura só por soldados de Portugal». «A tropa teutónica avança com aquela segurança quase de vitória, quando um dos nossos ase lembrou de dizer: “Eh rapazes, e se nos fôssemos a eles?”... Num entusiasmo, os soldados de Portugal arrancaram com o seu alferes à frente, e ali vão de baioneta calada e granadas de mão, contra um inimigo bem superior e armado. Os nossos matam e ferem, salientando-se pela sua superior energia o soldado 178, Luiz dos Reis, verificando-se, após uns minutos de feroz luta, que do inimigo se entregaram prisioneiros um oficial e 45 soldados, com uma metralhadora, libertando ainda um sargento e dois praças ingleses, que pouco antes haviam ficado prisioneiros», contou o autor.
Pela sua bravura, Luiz dos Reis seria «promovido por distinção a 1.º cabo e condecorado com a Cruz de Guerra de 2ª classe, distinções estas mui­to raras no Corpo Expedicionário Português». «Este soldado é natural de Fala, freguesia de S. Martinho do Bis­po, deste concelho. Vive na sua aldeia completamente ignorado, pois ninguém conhece o seu brilhante feito, tendo honrado como poucos a sua Pátria no campo da batalha», escreveu Santos Conceição, ao enaltecer o homenageado das cerimónias militares des­se dia no monumento dos combatentes da Primeira Gran­de Guerra. 

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